Bosque Harmonioso, O.Portugues

Autor:
Augusto Abelaira
Editorial:
Hacer (Josep Ricou Barcelo)
ISBN
BOSQUEHAR
Idioma
Portugués
Nº de páginas
0
Formato
6,50€

"O nosso herói refere-se também aos indígenas que viviam na Baía-da-águia-que-ri-ao-meio-dia-quando-o-Sol-brilha-e-as-rãs-ficam-silenciosas. Tendo eles descoberto que as palavras não mantinham sempre o mesmo significado, decidiram que cada um escolheria o seu individual vocabulário, comunicando com os outros graças a palavras privadas. Esta opção revelou-se extraordinariamente fecunda e os homens dessa comunidade adquiriram uma elevada noção das suas próprias personalidades. O único senão: não conseguiram entender-se. Mas, concluíam eles, antes assim do que a ilusão de que se entendiam. Descobri ainda outra comunidade bem mais de espantar: não sei bem porquê, possivelmente porque viam o mundo dessa maneira, usavam uma palavra para peixe, triângulo e Lua (bal) e outra para Sol, carne e árvore (tam). Como se em vez de seis coisas houvesse apenas duas. E quando diziam bal e comiam peixe, pensavam, se bem os compreendi, que também comiam Lua. E quando observavam a Lua, acreditavam que também viam peixe. Assim, observei certa vez uma criança a chorar com fome e disse bal. A mãe, muito pobre e sem peixe para lhe dar, apontou-lhe a Lua e a criança calou-se, aparentemente satisfeita. O mundo deles reduz-se a uma ilusão? Porque não diremos o mesmo do nosso, tanto mais que nunca consegui levá-los a compreender que Lua é uma coisa e peixe outra? E o argumento de que o peixe alimenta e a Lua não, nada prova, eles sentiam-se alimentados. Só a nós, que estupidamente distinguimos a Lua do peixe, a Lua não alimenta. Falso: alimenta o coração dos apaixonados".