…Quando nos oferecêrom prologar este livro, assaltárom-nos
sérias dúvidas. Nem a literatura é a nossa especialidade, nem a
exibiçom de peripécias pessoais devesse ser matéria de interesse
para ninguém. Mas o habitante da ilha animou-nos, dandonos
umha chave importante em forma de sentença sábia:
‘pertenço a umha terra. A umha constelaçom. Umha constelaçom
é um clam.’ Isto levou-nos a ter muito presente que se
conhecêmos por dentro a prisom, é porque a conhecêrom familiares
nossas, porque a conhecêrom e conhecem companheiros
e irmaos de luita; porque a conhecêrom, em tempos
recuados, alguns dos nossos referentes políticos senlheiros, ou
algumhas daquelas grandes cabeças que soubérom criar, teorizar
e polemizar, com pouca luz e muito frio, desde aquele lado
dos muros. Neste limiar vai um chisco da experiência de toda
essa constelaçom, quiçá alheia ou distante para os mais, na realidade
mais próxima do que podemos sospeitar. Com o debalar
de todas as falsas promessas que nos vendeu a democracia de
mercado, envoltas na miragem consumista, vai-se conformando
umha nova relaçom com a adversidade. Mais familiar e mais
sábia, mais grave, mas nom necessariamente triste. ‘Protegemme
as palavras’, diz o habitante da ilha. Na mochila de viagem
para estes tempos incertos deveriam ir livros como este.
(Limiar ANTOM SANTOS)