Um testemunho sensível e comovente sobre família, culpa e depressão.
Luiz Schwarcz é um dos mais influentes editores do Brasil e deu a conhecer ao país algumas das mais relevantes vozes da literatura brasileira, na Companhia das Letras, editora por si fundada há mais de trinta anos. Dentro de si, porém, apesar do sucesso, carrega o peso de uma história, longínqua no tempo mas ainda dolorosa.
Esta é a história de uma família que abandonou tudo para fugir ao terror imposto na Europa pelo nacional-socialismo: o pai de Luiz, húngaro, conseguiu escapar, sozinho, de um comboio a caminho do campo de concentração de Bergen-Belsen, deixando para trás Láios, o pai, no vagão que acabou por o conduzir à morte; a mãe de Luiz, croata, teve de decorar aos três anos um nome falso para embarcar com a família num périplo que os levou primeiro a Itália e depois ao outro lado do Atlântico. Os destinos dos dois, André e Mirta, cruzaram-se no Brasil, com as lembranças dolorosas do passado trágico a ensombrarem as promessas de uma nova vida.
Filho único, Luiz, ainda jovem, entendeu ser sua a missão de expurgar as culpas que o pai carregava por não ter podido evitar o fim trágico do próprio pai, avô do autor. Como se não fosse peso suficiente para os ombros de um jovem rapaz, via-se também como responsável por manter estável o casamento dos pais, união cheia de silêncio, dor e incompatibilidade. Assumir esse papel acabou por ser a fonte das angústias que o acompanharam ao longo de toda a infância, adolescência e vida adulta.
Ao recuperar com franqueza estas memórias, Luiz Schwarcz constrói um sensível e delicado relato de como a depressão e os traumas podem tirar o fôlego a qualquer um.