O primeiro e muito aguardado romance de Nelson Nunes é um marcante relato, uma imensa declaração de amor de um filho à mãe que o salva de um pai violento e de si próprio, quando a morte lhe parece a única saída para uma vida de sofrimento.
Marco pensa que o amor é violência. Marco pensa que ser pai é ser mau. Marco pensa que ser criança é ter medo a toda a hora. Uma infância estilhaçada pelas marcas de um pai-agressor, mas salva por uma mãe que ousa desafiar o seu carrasco. Uma ficção autobiográfica, na qual o autor explora acontecimentos e traumas da sua infância, demonstrando que a violência doméstica é real e pode estar mesmo ali ao lado. «Oiço a palavra "pai" e tenho medo. Isto é poderoso, e não conheço ninguém que o sinta desta forma.»
«Isaac segurou na mochila, abriu-a e tirou de lá um revólver. A princípio, pensei que era outro presente para mim. Mas não. Toquei no metal frio, percebendo que era uma arma a sério, e senti um baque no peito.
- É uma pistola, já viste?
Não soube o que responder, embora fossem muitas as perguntas que me corriam na mente a grande velocidade: onde conseguira ele a arma? Para que a queria? Tencionaria matar alguém na taberna? Iria matar-me a mim? Ou a Maria? Ele pareceu ler-me os pensamentos, ou apenas o olhar apavorado que exibia no meu rosto infantil.
- É para matar a tua mãe. Assim ficamos livres e podemos viver juntos.»