Partindo dos textos escritos pelos Padres da Igreja que nos primeiros séculos da história cristã, transmitiram em termos ainda muito pouco elaborados mas com grande frescura, o pensamento de Igreja no que diz respeito à distribuição social da riqueza, D. António dos Reis Rodrigues, recupera esta mensagem primordial procurando enquadrá-la no contexto actual das diversas condições de vida dos povos do mundo. O autor centra assim esta sua análise não no combate à legitimidade da riqueza, que a doutrina cristã sempre reconheceu, embora com as necessárias limitações, mas na contribuição que todos os cidadãos poderão ter para que, como também a doutrina cristã sempre exigiu, os mais desfavorecidos tenham mais fácil acesso aos bens económicos. Não que os pobres, na sua opinião, sofram hoje geralmente de maior pobreza que no passado. Mas é bem maior, como facilmente se reconhece, a distância que em nossos dias separa os ricos, tanto indivíduos como povos, da condição dos pobres. Este desequilíbrio manifesta-se na “persistência e, muitas vezes, no alargamento do fosso entre a área do chamado Norte desenvolvido e a do Sul em vias de desenvolvimento”, não se podendo ignorar, porém, que “as fronteiras da riqueza e da pobreza passam pelo interior das próprias sociedades, quer desenvolvidas quer em vias de desenvolvimento”. Além disso, “assim como existem desigualdades até aos extremos da miséria em países ricos, assim, em contraposição, nos países menos desenvolvidos também se vêem, não raro, manifestações de egoísmo e de ostentação de riqueza, tão desconcertantes quanto escandalosas”. Neste sentido, D. António dos Reis Rodrigues defende, entre outras, de acordo com a posição da Igreja, que para fazer face a este crescente fosso entre ricos e pobres, o homem, se reconheça também enquanto membro da humanidade, cada um como que vizinho de todos os demais. Defende ainda a globalização da solidariedade e o crescimento da proximidades dos homens entre si, não só no aspecto económico, mas em todos segundo os quais se cumprem justamente como homens, em vista do fim para que Deus os criou.